Falta de acesso de alunos à internet impossibilita EAD no Rio
Waldeck: será debatida na Casa a proposta de suspensão do ano letivo
#O uso de plataformas digitais na educação é importante para manter o contato com alunos e oferecer incentivos educacionais e materiais pedagógicos complementares, mas todos discordam da forma como a Secretaria Estadual de Educação (Seeduc) tenta implementar a medida. Essa foi a conclusão de quem participou da audiência pública conjunta das duas comissões da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) realizada, nesta terça-feira, por videoconferência, para debater o ensino à distância para alunos da rede pública.
A direção do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do
RJ (Sepe-RJ) participou do debate e discordou do modelo autoritário
que está sendo implementado pela secretaria. Defendeu a retirada
imediata do PL da pauta de discussão e que a Seeduc discuta a crise
com os profissionais da educação.
Representantes de várias instituições públicas de ensino,
presentes ao evento, defenderam, na sua maioria, a suspensão do
calendário escolar no ano de 2020, tendo em vista a incerteza sobre
a duração do período de isolamento social e da falta de acesso à
internet por parte de inúmeros alunos que vivem em situações
precárias.
Desafio
A coordenadora do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de
Justiça de Tutela Coletiva de Proteção à Educação (CAO
Educação) do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro
(MP-RJ), Débora Vicente, disse durante a videoconferência que o
grande desafio é entender como as instituições e poderes vão se
adaptar a esse momento, tendo em vista a precariedade financeira de
estudantes de municípios e docentes de todo o estado, que possuem
diferentes realidades. “A Seeduc teria que nos informar a
implementação de todo o processo. Nós, do MP-RJ, não estamos
contra ou a favor do ensino à distância, mas devemos levar em
consideração as condições particulares de cada unidade para
ofertar esse regime educacional”, observou.
O MP-RJ solicitou à secretaria esclarecimentos sobre a proposta sob
o argumento de que existe um fundamento legal, mas está tudo
obscuro. Segundo o MP, falta da parte da secretaria uma portaria,
decreto ou resolução para tornar legal esta iniciativa. Segundo
este ponto de vista a Seeduc tem que deixar de usar somente meios
informais (lives, facebook e whatsapp) e usar meios legítimos para
anunciar suas propostas e, assim dar clareza e transparência para os
seus objetivos.
Para os deputados Waldeck Carneiro (PT), presidente da Comissão de
Ciência e Tecnologia, e Flávio Serafini (Psol), que está à frente
da Comissão de Educação, a proposta da secretaria, de que as aulas
sejam disponibilizadas por plataformas no ambiente virtual, pode
prejudicar os estudantes que não teriam condições de acessar os
conteúdos de forma online.
“O acesso à internet ainda é limitado, tanto que 50% dos alunos
não têm como entrar numa ferramenta digital. Além disso, teríamos
que debater com a Secretaria de Educação, que não divulgou ato
normativo, sobre a substituição desses dias letivos. A meu ver,
acesso online numa plataforma que nem todos terão como usar não
pode ser contabilizado como dia letivo”, analisou Serafini.
Sem respaldo legal
Já Waldeck mencionou o projeto de lei 2036/20, que dispõe sobre a
educação à distância para alunos da rede estadual durante as
medidas de enfrentamento do coronavírus. O PL recebeu emendas de
parlamentares, entre elas destacam-se a que trata da não utilização
de plataformas virtuais de alto custo, conteúdos acessíveis a todos
- inclusive aos estudantes com necessidades especiais -, e que o
material pedagógico disponibilizado possa ser aproveitado como parte
do processo formativo dos alunos. “A Seeduc anunciou tudo sem
respaldo legal. Portanto, o acesso online não pode ser contabilizado
como dia letivo”, disse o parlamentar.
Também estiveram presentes o Conselho Estadual de Educação (CEE),
Defensoria Pública Estadual, AERJ, Presidente da Fundação Cecierj
e Rede Faetec. A Seeduc estava convocada, mas o secretário Pedro
Fernandes não participou nem delegou um representante para
participar da audiência online. O secretário explicou por meio de
mensagem de whatsapp que se encontrava em reunião no Palácio
Guanabara, sede do Governo do Estado, definindo a destinação de
recursos para a merenda escolar de estudantes da rede pública.
Ao fim da audiência online, Waldeck classificou como um marco na
Alerj a reunião virtual e defendeu que será debatida na Casa a
proposta de suspensão do ano letivo. “Vamos debater na Alerj a
reposição dos dias letivos e cargas horárias de forma
responsável”, disse. Já o deputado Serafini disse que é
imprescindível um detalhamento de uma logística por parte da
Secretaria de Educação: “Vamos enfrentar o assunto na Alerj”.
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