Cieps completam 33 anos
Mais educação, menos violência
'Ciep é a escola que o Brasil precisa!', Darcy Ribeiro
Criados
na primeira gestão (1983-1987) do governador Leonel Brizola e
idealizados pelo educador Darcy Ribeiro, os Centros Integrados de
Educação Pública, os Cieps, também conhecidos como Brizolões,
fizeram 33 anos de existência.
O
primeiro
a ser inaugurado,
no dia 8 de maio de 1985, foi
o
Ciep Tancredo Neves, no bairro do Catete, zona
Sul do Rio.
Na
unidade eram oferecidos, além do currículo regular, atividades culturais, estudos
dirigidos e educação física em quadra poliesportiva.
Ainda havia consultórios médico e odontológico, animadores
culturais, salas de leitura, de artesanato e dormitórios para alunos
residentes – somente estudantes que se encontrassem em situação
de vulnerabilidade social. Dessa
forma, o Ciep “abraçava” crianças
carentes tirando-as
das
ruas e
oferecia-lhes
os chamados "pais sociais": funcionários públicos que
“residiam”
nas
unidades.
Ciep Tancredo Neves |
O
colégio recebia as crianças das 8h às 17h e atendia alunos,
principalmente, do Morro Santo Amaro, situado próximo à sua
localização. Na escola também trabalhavam diversos moradores da
localidade, com o objetivo de que laços entre o colégio e a
comunidade fossem estreitados.
Os
Cieps forneciam refeições desde a chegada da criança para o
primeiro turno até a saída, quando havia o jantar.
Quando
encerrava o período letivo ou havia as férias de meio de ano, havia
atividades recreativas para que as crianças pudessem continuar a
frequentá-lo
e obter acesso aos recursos, como as salas de leitura e as refeições.
Os materiais didáticos eram entregues as crianças, como cadernos,
lápis e borracha e em cada turno havia uma professora.
A
capacidade média de cada Ciep
era de
mil alunos.
Brizola e Darcy
Darcy Ribeiro, Leonel Brizola e Oscar Niemeyer |
Segundo
o Censo Nacional de 1970 e 1980, eram 24 milhões de pessoas sem
escolaridade no Brasil. Foi nesse cenário, já no fim da ditadura,
que o
governador Leonel
Brizola assumiu a Educação do Rio de Janeiro como sua meta
prioritária. Uma comissão coordenadora, a cargo do vice-governador,
educador e intelectual Darcy Ribeiro, foi então criada para elaborar
o Plano Especial de Educação (PEE). Ao menos 52 mil professores de
todo o estado chegaram a participar diretamente, em reuniões locais,
de debates e revisões de teses elaboradas pela comissão
coordenadora. Dos presentes, mil foram eleitos como representantes
para os encontros regionais. No fim, cem desses profissionais
discutiram a redação final das bases do PEE, que trazia diversas
metas para a educação.
Para
colocar todas essas ideias em prática, seriam necessárias novas
unidades escolares, que precisavam ser belas, amplas, com baixo custo
e de rápida execução. A responsabilidade ficou a cargo de Oscar
Niemeyer, que usou a técnica do concreto pré-moldado, o que
permitiria construir um Ciep inteiro em apenas quatro meses. O
projeto era 30% mais barato do que a técnica convencional. Cada
unidade era formada por três construções diferentes: um edifício
principal, uma quadra poliesportiva e uma biblioteca.
Estrutura de ensino deteriorada
Se a essência do projeto dos Cieps, como foi concebido, existisse até hoje, o
Brasil não estaria na situação em que se
encontra, com violência
extrema, ignorância elevada e uma população preconceituosa em todos os níveis. O país possui atualmente uma estrutura de ensino falha e em estado de deterioração.
A
economista Kalinca Léia Becker, que defendeu a tese de doutorado,
“Uma
análise econômica da relação entre a educação e a violência”,
realizada no programa de pós-graduação em Economia Aplicada da
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em
Piracicaba, comprovou a potencialidade da escola como um fator para
influenciar o comportamento dos alunos e reduzir a violência.
A
tese
mostra
que quando ocorre o investimento de 1% na educação, 0,1% do índice
de criminalidade é reduzido. “O objetivo geral do trabalho foi
analisar a relação entre a educação e a violência, observando se
a educação e a escola podem contribuir para reduzir a violência e
o crime”, explica
Kalinca
Becker.
A
análise foi realizada por meio da construção de dois ensaios. No
primeiro, foram coletadas evidências de que a atuação pública na
área da educação poderia contribuir para reduzir o crime no médio
e longo prazo. Nesta etapa, foi mensurado o impacto do gasto público
em educação na redução da taxa de homicídios, utilizando dados
dos estados brasileiros, entre os anos de 2001 e 2009.
“Quando a escola promove atividades extracurriculares, reduz-se a possibilidade do aluno cometer um ato agressivo”
No
segundo ensaio, que foi financiado pelo programa “Observatório da
Educação”, fruto da junção entre o Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), foram
analisados alguns fatores do ambiente escolar e do seu entorno que
poderiam contribuir para a manifestação do comportamento violento
dos alunos, a partir de dados disponibilizados nas Provas Brasil de
2007 e 2009.
Segundo
Kalinca, estas análises são complementares na busca da solução
para o problema apresentado pela tese. “O primeiro ensaio fornece
uma análise ampla e agregada do impacto dos gastos com a educação
na redução da taxa de homicídios, enquanto o segundo volta-se para
dentro da escola, analisando como os vários fatores do ambiente
escolar podem prevenir a manifestação do comportamento violento”,
conta.
Os
métodos para a construção destes ensaios foram viabilizados por
meio de revisão literária e análises de dados empíricos
utilizando ferramentas estatísticas e econométricas, que resultaram
na constatação de que a escola e a educação são fundamentais
para a redução da criminalidade.
Desenvolver conhecimento
A
pesquisa comprovou a influência da educação no comportamento dos
alunos. Constatou-se no primeiro ensaio que quando ocorre o
investimento de 1% na educação, 0,1% do índice de criminalidade é
reduzido. Porém, para isso, é necessário que a escola funcione
como um espaço para desenvolver conhecimento, pois, no segundo
ensaio, foi observado que escolas com traços da violência, como
depredação do patrimônio, tráfico de drogas, atuação de
gangues, entre outros, podem influenciar a manifestação do
comportamento agressivo nos alunos.
“A
possibilidade de algum aluno manifestar comportamento violento em
escolas onde foram registrados crimes contra o patrimônio e contra a
pessoa é, respectivamente, 1,46 e 1,22 vezes maior em comparação
às escolas que não registraram estes crimes”, conclui Kalinca.
Alunos de Ciep comemorando o Dia da Matemática |
De
acordo com os resultados obtidos, o contato com um meio onde
prevalecem ações violentas influencia diretamente o comportamento
do aluno dentro da escola. Sendo assim, as políticas públicas para
reduzir o crime na vizinhança da escola podem contribuir
significativamente para reduzir a agressividade dos alunos. “A
escola pode, ainda, adotar medidas de segurança para proteger os
alunos nas suas imediações”, reforça.
Uma
das soluções sugeridas pela pesquisa é que, quando a instituição
promove atividades extracurriculares, ocorre a redução em 0,96% da
possibilidade de algum aluno cometer um ato agressivo. “Este é um
resultado interessante, pois muitos programas de redução da
violência nas escolas incluem atividades de esporte, cultura e lazer
como forma de socializar a convivência e, assim, reduzir a
violência”, complementa. Também foram observadas evidências de
que o ambiente familiar e a participação dos pais nas reuniões da
escola influencia positivamente
o
comportamento do aluno.
Excelente matéria! EDUCAÇÃO A MELHOR INTERVENÇÃO
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